A Janela do Luar
Sentada em frente a uma janela de um quarto que me era desconhecido, fechei-me a sete chaves. Sem saber o que se passava lá fora, não queria ver ninguém. Éramos só nós as duas: eu e a janela. Fitei-a com um olhar desconfiado, mas segui na sua direcção. Aproximei-me e em seguida abria-a. Como era bela e grande a sua armação! Tinha um parapeito revestido de ouro e nele me sentei.
Através daquela janela pude reviver muitos bons momentos que passei. Por segundos vi a minha vida a andar para trás. Quis apanhar os bons momentos e revivê-los. Quis apagar os maus, para que nunca mais fossem lembrados: momentos de decisão, paz e conflitos.
Sentia-me feliz, pois tudo aquilo era mágico. Os risos que tinha dado, as lágrimas que derramei, a alegria que sentia e o sofrimento que com alguns passei, mas não os pude agarrar nem apagar. Vi também aquele momento que formou a minha vida num poço de tormentas. Lá estava ele sentado no banco do jardim. Sentei-me a seu lado. Parecia-me com uma estrangeira que tinha acabado de chegar a um país que lhe era totalmente desconhecido. Era como se não falássemos a mesma língua. Não estávamos
Sentia-me fraca, porque só os fracos desistem. Não tive mais força para lutar e seguir
De súbito, e sabe-se lá de onde, levantou-se um enorme vendaval. As portadas da janela pareciam um cavalo relinchando de sofrimento. Suavam de acordo com o vento, e percebi que era hora de me vir embora. Saltei do parapeito de ouro e fechei a grande janela. De novo, encontrava-me num quarto desconhecido com uma bela e grande janela. Não me atrevi a abri-la outra vez.
Tive medo de ficar presa ao passado para sempre, de não conseguir viver o futuro e o presente. Um dia hei-de voltar a essa janela que me fez voltar no tempo, sem medo das tristezas e para perceber onde errei e aprender que para se amar é preciso sofrer. E se pudesse voltar atrás não mudaria nada, apenas aquele dia, durante o qual teria gritado ao mundo como o adorava.
Os dias foram passando... Aquela janela não me saía do pensamento. Pensava nela todos os dias. Tinha dito que não havia de voltar, mas não resisti. Fiquei indecisa quando estava a chegar à porta do quarto. Por momentos pensei em recuar, mas não ia desistir outra vez. Abri a porta e quando ia a entrar a minha mãe chamou-me. Ainda bem, salvou-me de voltar ao passado. Desci as escadas e fui ter com ela. Para meu azar pediu-me que fosse a esse quarto buscar uns álbuns de fotografias, para ela deitar fora. Percebi que à minha mãe aquele quarto também lhe trazia recordações antigas. Não me atrevi a perguntar-lhe a razão de querer deitar os álbuns fora.
Entrei de novo no quarto que me parecia ainda mais desconhecido. Fiquei com imenso calor e ao mesmo tempo cheia de frio. Foi ainda mais estranho do que da primeira vez, pois anteriormente não tinha reparado no armário grande e robusto que se encontrava no fundo do quarto. Este parecia-me sozinho e triste. A única janela que existia não passava luz suficiente. Aquele quarto era muito misterioso. Quando abri o armário senti um cheiro horrível! Cheirava a velho e havia imenso pó! Peguei nos álbuns e voltei a fechá-lo.
Quando passei perto da janela ouvi uma voz muito suave e meiga. Era uma voz quente cheia de força que me pedia que voltasse a abrir a janela. Tentei resistir, mas aquela voz não se calava. Abri de novo a grande janela. Vi crianças a brincar, risos, cheiros, muita alegria se sentia no ar.
Admirei-me imenso, estava à espera que a janela me mostrasse o que não queria ver. Pelo contrário sentia-me bem, cheia de força. Desta vez não tive pressa em fecha-la, não se levantou nenhum vento e as portadas não pareciam cavalos. Ouvi a minha mãe chamar-me outra vez. Fechei a janela sem pensar se devia voltar ou não. Entreguei os álbuns à minha mãe que de imediato os queimou. Continuei sem saber bem porquê, pensei se seria isso que teria de fazer para esquecer aquele dia. Como podia eu queimar essa recordação? Não podia agarrá-la nem tocá-la. Seria impossível. Entreguei-me de novo ao quarto. Sentei-me no chão em frente a grande janela e fiquei a pensar.
O tempo foi passando e eu sem dar por isso. Entretanto acabei por adormecer. Do chão saía um cheiro a madeira e era desconfortável. Mas eu sentia-me bem, aquela janela transmitia-me paz e bem-estar. De madrugada apercebi-me que não devia estar ali, no entanto nem sequer me importei. Olhei para a janela e não me parecia tão bela. Queria ouvir a voz que me fez abri-la de novo. Mas limitei-me a um silêncio. Não sabia se a devia de abrir ou não. Sentia-me triste, era como se fosse a primeira vez que ali tinha entrado. Abri a janela e vi o tempo recuar, não consegui evitar. Teria que esperar que o vento se levantasse para dali sair. Doeu mais do que da primeira vez. Agora o meu sentimento de culpa aumentava, e tudo aquilo era muito intenso. Entretanto tudo acabou. Senti-me aliviada, mas a dor permanecia. Não era uma dor qualquer, era sim qualquer coisa de inexplicável, inacabável. Estava obcecada pela grande janela, pois todos os dias ali estava eu, à mesma hora nem mais um minuto. A janela fazia-me ver como tinha desperdiçado aquela oportunidade. Sentia-me cada vez mais culpada. A janela todos os dias me dava um castigo diferente, mas não a conseguia evitar. Via-a como um vício e dela me ia tornando cada vez mais dependente. Não me conseguia ver livre dela. Queria pedir ajuda, mas tinha vergonha, medo de que me ignorassem. Um dia coloquei um ponto final nesta pessoa em que me tornei: fechei a porta do quarto e resolvi deitar a chave fora.
Decidi ir para fora por uns dias. Desfazer a pessoa em que me tinha tornado e voltar a ser eu. Fui para longe da janela, do quarto, da casa, da cidade e do meu país.
Saí por duas semanas. Conheci novas pessoas, costumes e línguas. A janela não permanecia na minha vida. Nem sequer ousei falar dela. Para quê? Para voltar a cair no mesmo vício e nunca mais me levantar. Não! Isso não irá acontecer. Chegou o dia de vir para casa. Sentia-me triste, mas com uma moral diferente. Continuei a minha vida, sem estar presa ao vício daquela janela. Tinha vencido. Ela não me conseguiu derrotar completamente. Passei pelo corredor em frente à porta do quarto e reparei que a porta tinha uma fechadura nova e encontrava-se entreaberta. Espreitei: por dentro o quarto estava igual e a janela continuava com a mesma armação. Tive uma enorme vontade de dizer que a tinha vencido e que ela não conseguiria derrotar-me de novo.
Enfrentei-a, segui na sua direcção e abri-a. Fiquei à espera que o tempo recuasse e nada aconteceu. Apenas sentia o frio que vinha da rua, e via a neve cair, estava tudo muito calmo. Não percebi se eu tinha estado louca este tempo todo, se tinha mesmo sido verdade. Fiquei muito tempo a pensar, mas nada me ocorria. Como não tinha mais nada a fazer fui perguntar à minha mãe. Pedi-lhe que me ajudasse e contei-lhe o sucedido. Ela riu-se e perguntou se eu estava bem, virou as costas e foi-se embora. Tinha voltado ao princípio, sem saber o que aquela janela me queria dizer. Fui de novo para o quarto. Na janela reparei que havia uma frase que se situava onde me tinha sentado da primeira vez. A frase estava escrita com umas letras muito diferentes do habitual. E a frase dizia: só VÊS O QUE QUERES VER! Por uns dias essa frase não fazia qualquer sentido. Até que cheguei a uma conclusão. A janela apenas me mostrava o que eu de facto queria ver. E como me sentia tão culpada por aquele dia não ter corrido bem, fiquei a sofrê-lo todos dias como se fosse o primeiro.
Eduardo Cunha – 5ºA
Maria Frade – 5ºA
Cláudia Teixeira – 5º A
Eduardo Félix – 5º C
Caroline Buchacher – 5º D
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Daniel Lourenço – 5º H
Duarte Godinho – 6º G
Beatriz Natário – 6º G
Inês Pipa – 6º I
Ana Bonito – 6º I
Joana Oliveira – 6º I
Bárbara Casteleiro – 6º I
Ana Raquel Santos – 6º I
Bianca Lobato – 7º D
Micael Dias Ribeiro – 8º E
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